Solonópole

Imagine uma cidade onde todas as escolas possuem computadores e tem acesso à Internet, todos os cidadãos podem, de suas casas, gratuitamente, acessar a Internet, e é possível mesmo em uma praça pública acessar uma ilha digital para checar seus e-Mails a um custo de 50 centavos por hora. Onde fica esta cidade? Acredite ou não esta é a realidade de Solonópole, no sertão cearense, uma cidade muito pobre, com apenas 17.000 habitantes e com o maior índice de mortalidade infantil de todo o Brasil. Como podem duas realidades tão distintas conviver em um mesmo local? Quem é o louco do prefeito que administra esta cidade e fica investindo uma fortuna em informática ao invés de tratar da questão da mortalidade infantil? Pois de louco não tem nada o Sr. Francisco Odorino Filho, filho de Solonópole, que resolveu voltar a sua cidade natal depois de muitos anos para tomar a responsabilidade de melhorar a vida de seus conterrâneos, e especialmente garantir a suas crianças um futuro que de outra forma as condenaria à exclusão.

Odorino poderia muito bem esquecer suas origens e continuar vivendo em São Paulo, onde é dono de uma próspera empresa de consultoria em informática, e como tantos outros, fingir que não há outros tantos brasileiros que por uma razão ou outra não tiveram a mesma sorte. Ao invés disto, Odorino achou que poderia com seu conhecimento ajudar seus semelhantes, e em sua cidade construir uma ponte que ultrapassasse a barreira digital que exclui da tecnologia os que não tem dinheiro.

Mas e a mortalidade infantil? Odorino está preocupado com isto, e por isto mesmo reduziu seus investimentos em tecnologia ao mínimo, e por mínimo entenda-se quase nada. Como? Software livre. Quase ouço o leitor dizer: "Lá vem o Cesar de novo com esta história de Software Livre...". Desta vez, porém, a história não é minha, e sim o testemunho real do prefeito de Solenópole, um dos convidados do Fórum Pernambucano de Linux Internacional. Solonópole hoje tem escolas no meio do sertão nordestino que possuem acesso à internet e não tem nem telefone: o acesso é feito via rádio. Os computadores que estão à disposição das escolas e da comunidade não são os mais modernos que existem, muitos foram doados, e todos rodam o mesmo sistema operacional, o GNU/Linux, que não custou nada aos cofres do município. Alunos e membros da comunidade estão sendo treinados para a utilização da tecnologia, e muitos jovens, com computadores a disposição, já começaram a aprender também como auto-didatas. Alguns destes jovens já passaram a trabalhar na área de informática da própria prefeitura.

Mas afinal, a mortalidade infantil? Odorino está atacando pontualmente este problema com ações diretas junto a saúde pública, mas ele acredita que o que resolve mesmo qualquer problema é informação qualificada, que dê a sua população melhores condições de emprego, gerando mais riqueza e arrecadação para o município. Os olhos de Odorino brilham quando conta que imagina que o povo de Solenópole possa vir a oferecer seus serviços e produtos através da Internet, levando o nome de sua cidade e de sua gente para o mundo inteiro.