Reinaldo, seu feio!

Oscar Niemeyer morreu faz pouco. Dia 5 de dezembro de 2012. Ele disse:

Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.

Chico Buarque de Hollanda falou, sobre ele:

...Quando minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é casa do Oscar.

Reinaldo Azevedo, da revista Veja, prestou sua homenagem ao reverenciado arquiteto: Morre Oscar Niemeyer, metade gênio e metade idiota. Pediu ou não pediu? Depois, refletindo melhor sobre o que escreveu, Reinaldo completou: Niemeyer e os zurros dos 100% idiotas. Pediu de novo...

Acho que a coisa mais fácil do mundo é aproveitar-se de momentos de comoção para criar polêmica e conseguir audiência. Também é fácil chamar de burros os indignados, dizer que eles não entenderam nada. O Reinaldo é um cara muito inteligente e, certamente, bom para trabalhar em uma revista do estilo da Veja (que não gosto, não leio há séculos e só cheguei nos posts do Reinaldo porque eu não estava fora do planeta).

Ao pegar o falecido Niemeyer e espinafrá-lo por suas preferências políticas, alinhando o pensamento do arquiteto a regimes totalitários e homicidas sem dar-se ao trabalho de elucidar muito suas fontes, Reinaldo escreve no melhor estilo "listinha" muitos parágrafos com o paralelo "ele é um gênio da arquitetura" - "ele é um idiota político". Ele tinha certeza que muita gente, naturalmente ofendida já pelo título de seu primeiro artigo, cairia em seu pega-ratão. Aí bastou desengavetar o segundo artigo (aposto que já estava escrito) e juntar com o que ele chamou de "zurros dos 100% idiotas" para dizer tudo o que ele já havia dito antes, só que agora com a defesa documental de que não havia sido compreendido. Boa técnica!

O Reinaldo poderia fazer o favor de contextualizar melhor o alinhamento político do Niemeyer e "a vocação (de Juscelino Kubitscheck) para achar que a sociedade obedece a regras que cabem num projeto". Pra não dar muito trabalho ao analista político, de um dos blogs mais acessados do Brasil, essa contextualização poderia levar em conta apenas uns dez anos antes e depois da era JK, falar um pouquinho do que foi uma ditadura totalitária e militar no Brasil. Tipo assim, só entre 1964 e 1970. Mas eu acho que ele não vai fazer isso porque não vai conseguir mais tanta audiência para o seu blog ou para a Veja.

Artigo publicado originalmente no Dicas-L.

Dica de leitura:
OSCAR NIEMEYER - CASAS



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