Papai Noel

Jon "Maddog" Hall é o presidente da Linux International. Chegamos a trabalhar na Compaq na mesma época, quando a Compaq comprou a empresa para a qual eu trabalhava, a Tandem, e logo em seguida a DEC, da qual Maddog era funcionário. Nem eu, nem ele, sobrevivemos a nova lógica de negócios da Compaq, que acaba de ser comprada pela HP, talvez por ter deixado de entender a sua própria lógica de negócios. Como de costume, veio uma mulher para botar ordem na casa, e desejo a Carly Fiorina todo o sucesso à frente da maior e mais nova empresa de microcomputadores do mundo. Mas este texto é sobre o Maddog...

Maddog - em português, Cachorro Louco - ganhou este apelido carinhoso de seus alunos, há mais de 20 anos. Ele diz que tinha vários outros apelidos, mas preferiu este, e que atrás de seu semblante afável e amigo revela-se de tempos em tempos o tal Maddog. O apelido pegou, e Jon é conhecido na comunidade de software livre simplesmente como Maddog.

A palestra de Maddog aqui no Fórum Pernambucano de Linux chamava-se: Dez razões pelas quais você não deve usar Linux - e porque estas razões são falsas. Não vou importunar os leitores enumerando as razões, mas vou resumir a palestra de Maddog com uma frase do professor Rubens Queiroz, da Unicamp: "A resistência ao software livre é imaginária."

Conversei com muita gente aqui em Pernambuco e cheguei a conclusão de que, apesar da distância, fazemos escolhas muito similare sem termos de tecnologia. Ouvi vários relatos de pessoas que escolheram permanecer em uma platafoma tecnológica proprietária porque "todo mundo está fazendo a mesma coisa", assim, "se eu errar erro com todo mundo". Ora, quando o medíocre torna-se o padrão que justifica um eventual erro, deveríamos questionar se não é hora de termos coisas que realmente nos satisfaçam, e sob as quais tenhamos o controle. Não me parece justo que o erro coletivo seja automaticamente perdoado. Não estou falando só de software...

Maddog tem 51 anos, uma longa barba branca que salienta sua barriga. Enquanto passeava na praia, um moleque de rua o interpelou: Papai Noel, me dá um cachorro-quente? Com a frase traduzida pelo colega Heraldo, aqui de Recife, Maddog dirigiu-se a Kombi mais próxima e atendeu ao pedido do moleque. Logo eram doze, a quem Maddog atendeu. Para estes meninos, Papai Noel esteve no Recife e comprou cachorros-quentes. Maddog, que não consegue viver anônimo nos Estados Unidos, virou o Papai Noel gringo da praia de Boa Viagem, e ficou ainda menos anônimo.

Maddog veio para o Brasil ainda ouvindo o eco do ataque a seu país, e não acredita em vingança. Pelo contrário, acha que a violência só se multiplica com a violência.

Djalma Valois, presidente do CIPSGA (Comitê de Incentivo à Produção do Software GNU e Alternativo), abriu a palestra de Maddog dizendo que antes de pensar em ganhos financeiros, todos aqueles que se preocupam com a formação de seu povo, devem se preocupar em dissiminar seu conhecimento. Maddog frisou em seguida que todo e qualquer conhecimento é fruto de criação coletiva, e que ninguém pode ter propriedade intelectual sobre nada.

Imagine se o alfabeto fosse patenteado, as notas musicais, o teorema de Pitágoras? Imagine se voê tivesse que enviar dinheiro ao exterior a cada vez que utilizasse uma fórmula matemática?



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