Helsinki - V

Passei boa parte do dia, umas quatro horas (sim, porque o resto do tempo é noite!) entre o Museu do Correio e o Museu de Arte Moderna. Como aqui neva muito, o carteiro é meio que um herói, quase no mesmo nível que Erik, o vermelho. Gostei mais do Museu do Correio. Passei mais de uma hora escrevendo postais que só chegarão no Brasil depois de mim. Não faz mal. Serviu de analgésico para a saudade.

Quando no e-Mail anterior falei da pirâmide das necessidades de Maslov, acho que fica claro quando falamos de América Latina, Ásia não
industrializada (Índia, Paquistão ...) e África (Etiópia, Moçambique...) que a questão de apoio ao desenvolvimento sustentável é algo mais do que sério, sobre o qual não preciso falar muito aqui. Assim, no trabalho de identificar soluções que, usando o software livre, ataquem diretamente problemas como educação e geração de renda e emprego, a Rede Escolar Livre RS, junto com iniciativas de criações de Telecentros para
populações marginalizadas acabaram ganhando destaque na apresentação do
meu trabalho.

Abro aqui um parêntesis para responder a todos uma pergunta que tenho recebido: o trabalho será publicado sim. Só concordei em fazê-lo se pudesse publicá-lo sob a FDL (Free Documentation License), e que, caso por qualquer motivo isto não fosse possível, que eu tivesse a permissão de publicar a minha parte em meu site e permitir que todos os que tivessem interesse "linkassem" diretamente a ele (macetes que aprendi com o Prof. Imre). O pessoal da OneWorld levou adiante o meu pedido e o
Ministro acabou tendo que ser instruído sobre o que era a FDL. Resultado: tudo será publicado sobre a FDL, mas pediram aos envolvidos que só tornassem sua cópia pública em conjunto, na conclusão dos trabalhos. Será criado um portal público com nossas pesquisas para que todos possam criticar e contribuir. Mas não há segredo nenhum.

Tenho falado abertamente sobre o que estou fazendo e várias pessoas da América Latina têm contribuido. O UTUTO, do Diego Saravia, e o excelente nível de organização do UYLUG, do Uruguay, dos projetos LUGAR e AULA da Argentina, assim como a ONG Via Libre são destaque. Projetos de integração entre as Universidades da Nicarágua e de escolas da Colombia também. Graças ao Marcelo Branco consegui incluir bons dados sobre Cuba.

Gente da Guatemala, Costa Rica, Peru, também contribuiu. Falta achar informações sobre o Chile, de onde não consegui nada, e das colônias britânicas e francesas, além dos Estados Unidos que estão na América do Sul (Belize, Trinidad Tobago, Ilhas Virgens, Porto Rico, entre outros), que por suas características especiais serão incluídos na etapa em que começo a trabalhar agora.E como já disse antes, toda a ajuda é bem vinda. Fecho parêntesis.

Na África do Sul, um dos maiores problemas de infraestrutura é o alcance da energia elétrica. Basta instalar um cabo de cobre levando eletricidade a uma comunidade periférica para que ele desapareça no dia seguinte. O cobre é caro, e existe toda uma máfia de roubo de cabos. Na India, o grau de analfabetismo é tão alto que a infraestrutura capaz de suportar o acesso à Internet já chegou aos analfabetos: agora eles se preocupam em criar um computador que possa ser usado por analfabetos, antes de querer ensinar os analfabetos a ler e a escrever para daí poderem usar um computador. A gente é forçado a lembrar que a alfabetização não é diretamente ligada a cultura, e que mesmo antes da escrita, ou quando a escrita ainda não era de acesso a todos, muita cultura já havia sido criada. Um trabalho como este faz a gente reafirmar valores que são muito básicos. Voltando para casa vou me preocupar mais em contar para minhas filhas histórias que meus avós contavam e que nunca foram escritas, e já que eu posso, vou escrevê-las antes que se percam. Por mais bobas que possam parecer, as histórias que fazem a nossa vida tem que ficar para que as gerações seguintes tenham um sentido mais completo do que somos. Descobri também que a faculdade que eu sou capaz de completar é Filosofia. Pra Física só volto quando me aposentar e puder dedicar o tempo que ela merece. Einstein já dizia que a matemática foi o idioma que Deus usou para escrever o Universo. Se for assim, acho que a filosofia é a base da matemática, da física, e de todas as ciências supostamente exatas.



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