Helsinki - I

Em uma escavação na Inglaterra foram encontradas barras de ferros paralelas datadas de 1677, o que levou os arqueólogos à conclusão de que as primeiras estradas de ferro foram construídas pelos britânicos. Na Espanha encontraram pares de cabos de cobre datados de 1795, e os arqueólogos concluíram que os primeiros cabos telefônicos foram usados no país. Um investimento arqueológico financiado por inúmeras empresas americanas descobriu cabos de fibra ótica enterrados há mais de 120 anos. Na Finlândia cavaram, cavaram, e não encontraram nada. Os arqueólogos finlandeses descobriram que a telefonia celular foi usada pela primeira vez na Finlândia. Nem dois dias em Helsinki e já sei piadas locais!

Se em 1993, quando usei o Linux pela primeira vez alguém tivesse me dito que em 2002 eu estaria na terra do criador do kernel, eu iria perguntar: "Quem criou mesmo este negócio?". O mundo é pequeno. A Finlândia não é muito grande também: quatro milhões de habitantes, dos quais 500.000 estão em Helsinki (um milhão e meio se contar as cidades satélite). Isto sem contar os elfos da Lapônia, que fica um pouco mais para cima.

Se nevasse em Arroio do Meio, seria muito parecido com Helsinki, tirando o mar Báltico que é um pouco menor do que o Taquari em época de enchente. Em outras épocas tá qual e qual. Aqui é tudo muito limpo, talvez por causa da neve que deixa tudo branquinho, branquinho.

Estou trabalhando no escritório da Kepa, uma associação de ONGs que tem o suporte do governo finlandês. A OneWorld.Net e seu escritório local foram contratadas pelo ministro de apoio ao desenvolvimento para descobrir de que maneira o software livre impacta social e economicamente países emergentes (um nome político para o que no ginásio chamávamos de terceiro mundo). A idéia é descobrir se o governo do país do Linus deve destinar verbas para projetos de software livre na América Latina, África e a parte pobre da Ásia. Ainda que todos os coordenadores regionais deste trabalho coordenado pelo Niranjan Rajani (eu mesmo, o Nico Coetzee da África do Sul e o Frederick Noronha - ver a última Revista do Linux - da Índia) estejam ligados ao movimento de software livre, o ministro trabalha com várias agendas e prioridades. Ou seja, no início da reunião já fomos avisados de que todo o trabalho pode virar apenas uma "referência para o futuro". Os resultados, porém, serão publicados para a crítica pública.

Uma das coisas que discutimos hoje foi a participação da mulher no mercado de trabalho de informática, e como o software livre pode ajudar neste aspecto - um dos que foram destacados no quesito geração de emprego e renda. Imediatamente consultei as GNURIAS, e a Preta rapidamente respondeu com uma extensa lista de sugestões. A Preta coloca a versatilidade feminina, a capacidade de adaptação, como um diferencial positivo na busca de trabalho em um mercado cuja lógica de negócios se transforma. O que ela coloca nas entrelinhas de maneira não tão óbvia é a natural preocupação feminina com o próximo, a coisa de cuidar dos outros, um sentimento para o qual a melhor palavra que encontro é em inglês: nurturing (não estou me exibindo, é só o cansaço mesmo que faz com que as palavras escapem.

Aliás, falando na Preta, ela acaba de ter seu projeto de levar software livre como auxílio ao aprendizado à populações carentes no norte do Brasil aprovado pelo programa Universidade Solidária. A Preta já vinha pensando em fazer alguma coisa neste sentido desde que tivemos contatos com um grupo de professoras no primeiro treinamento de software livre que ministramos aos NTEs, e acompanhando o projeto Rede Escolar Livre e os trabalhos feitos pela Ofset (Organization for Free Software Education and Teaching) a Preta foi desenvolvendo o seu próprio projeto, trocando idéias com a mãe dela, que é professora. A Preta é jóia!



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